08 maio 2009

Mãe é mãe

Tomo aqui a liberdade de reproduzir a coluna do colega (e amigo) Dante Mendonça. Só quem é de Curitiba sabe a saga de almoçar em Santa Felicidade no Dia das Mães. E fica aqui meu abraço e carinho para todas as mamães que leem este blog.

Todo indeciso sabe o que acontece a uma pessoa que fica no meio do caminho: acaba atropelada. Especialmente no Dias das Mães, na Avenida Manoel Ribas, a caminho de Santa Felicidade, quando meia Curitiba consegue uma mesa num restaurante e, a outra metade, faz fila no lado de fora.

Nas vésperas do Dia das Mães, todo curitibano de larga experiência sabe que a escolha de um restaurante em Santa Felicidade requer um minucioso planejamento, sob o risco de deixar a homenageada morrer de inanição numa fila quilométrica. Se Curitiba não é para amadores, sabem ainda os curitibaníssimos que levar a mamãe ao bairro italiano não é para qualquer um, é missão para profissionais. Exige certos requerimentos logísticos que nem mesmo o cerimonial da Presidência da República tem ideia de tamanha complexidade. Comparado a um Dia das Mães em Santa Felicidade, digamos, só mesmo a inesquecível missa do papa Karol Wojtyla no Centro Cívico, em junho de 1980. E a comparação não é de graça, porque toda mãe também é uma santa.

De graça, isso sim, dou a ideia para a Secretaria de Turismo de Curitiba distribuir um manual de orientação com o seguinte nome: “Santa Felicidade no Dia das Mães”. Editado por especialistas (técnicos do Ippuc, Diretran, Polícia Militar e nutricionistas), o manual da galinha com polenta começaria explicando que a escolha de um restaurante italiano em Santa Felicidade pode ser feita de forma aleatória, no sorteio ou então aquele com a fila mais em conta. Isto porque, sabemos, existe uma velha suspeita curitibana segundo a qual em Santa Felicidade existe uma só cozinha. Uma descomunal cozinha que abastece todos os restaurantes, interligados por dutos subterrâneos. A única diferença é que, no Dia das Mães, você pode encontrar engenheiros, médicos, professores, advogados fazendo um bico extra como garçom.

Capítulo primeiro de “Santa Felicidade no Dia das Mães”: como se livrar das filas. Nesse quesito, atestam os curitibaníssimos de larga experiência, convém chegar a um dos restaurantes com 24 horas de antecedência, com a família disposta a montar acampamento no local.

Pode parecer desconfortável, principalmente para a nona, entretanto é preciso considerar que a data exige certos sacrifícios, todos insignificantes ante o afeto maternal. Ainda
é preciso levar em conta o raro prazer de dormir numa barraca sob a luz das estrelas, às margens da Avenida Manoel Ribas.

Acampamentos urbanos também têm seus encantos, dizem os sem terra, mas alguns cuidados devem ser tomados, para que a sua linda noite ao luar com mamãe não se transforme num pesadelo. Conforme instruções de escoteiros, algumas dicas básicas para a montagem de um acampamento seguro:

- Procure um restaurante que tenha um amplo estacionamento e avise aos amigos e parentes de sua localização.

- Evite acampar em lugares com pedras, tocos, aclives ou declives ou perto de capoeiras em terrenos baldios. Também evite armar sua barraca embaixo de árvores, pois num vento forte pode acontecer de soltar algum galho e acabar caindo sobre a nona.

- Olhe muito bem o local onde vai acampar, verifique se não é uma área com esgoto a céu aberto, pois nesses casos, numa chuva você corre o risco de ser expulso do almoço de tanto mau cheiro.

- Procure áreas protegidas do vento, sol e, sobretudo, dos ratos.

- Acampe sempre próximo de água potável ou limpa, mas evite as esquinas com risco de acidente de trânsito.

- Não deixe celulares, notebooks, jóias ou relógios ou qualquer outro objeto de valor próximo da entrada da barraca, pois pode atrair os larápios de sempre.

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Passar o Dia das Mães em Santa Felicidade é uma experiência inesquecível. Vale qualquer sacrifício (até mesmo passar uma manhã inteira na fila de carros que começa nas Mercês e termina num prato de frango prensado com polenta, macarrão e radici), porque mãe é mãe!