07 novembro 2008

Adeus Dailza


Acabo de saber da morte de Dailza Damas, primeira brasileira a cruzar a nado o Canal da Mancha e de tantos outros desafios. Tive a oportunidade  de acompanhar de perto sua carreira, a quem considerava uma amiga. 
Segundo informou o irmão, Antônio Damas, em entrevista à Rádio CBN, ela se recuperava de uma cirurgia para a retirada de tumor no cérebro. No entanto, a causa da morte foi um ataque cardíaco repentino, já que seu estado de saúde era bom. Ela foi hospitalizada após a parada, mas não conseguiu se recuperar. 
Era do tipo que quando colocava uma coisa na cabeça não havia quem tirasse. Foi assim quando resolveu que iria nadar no Rio Iguaçu, saindo de Porto Canoas até chegar ao Marco das Três Fronteiras. A questão era: havia as Cataratas do Iguaçu no meio caminho. E daí? A gente dá um jeito.
O jeito foi ser alçada de helicóptero de um ponto seguro antes das cataratas e deixada abaixo num trecho também mais seguro (mas não totalmente). A primeira tentativa foi frustada, não só para ela mas para todos nós que estávamos em Foz. O excesso de chuva havia tornado a aventura em suicídio. Melhor esperar. Um tempo depois, acho que duas semanas, lá estava ela (e eu também) novamente em Foz. Desta vez o tempo estava perfeito e tudo correu bem...



Para quem não sabe Dailza aprendeu a nadar aos 27 anos. O filho tinha problemas respiratórios e a natação era uma excelente opção. Ela resolveu acompanhá-lo e em pouco tempo descobriu que o espaço da piscina era pequeno, principalmente após participar de uma prova de travessia no litoral paranaense. Lá se foi ela pelo mundo: Canal da Mancha, Estreito de Gibraltar, contorno da Ilha de Fernando de Noronha e tantos outros. E aos 50 anos ela ainda tinha planos... 

Segue aqui um texto publicado na revista Marie Claire de maio de 2005 sobre mulheres que vivem no limite:

"A minha próxima travessia vai ser cruzar o lago Ness, na Escócia, aquele que dizem que tem um monstro. Não largo essa vida por nada, adoro. Hoje vivo em Santa Catarina e treino em Bombinhas. O meu filho, que é engenheiro, não tem nenhum trauma por ter ficado longe de mim enquanto eu nadava. Somos felizes. Se eu tenho medo da morte? Temo mais as guerras do mundo. Eu me sinto estranhamente protegida. Dou a primeira braçada e deixo que Deus cuide do resto.''


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